CRISE

Oferta excessiva de suínos explica preços pagos aos produtores, diz ABCS

Mesmo com a crise da suinocultura, o abate de animais de janeiro a março de 2022 foi maior que no mesmo período do ano passado

Por Estadão Conteúdo
22 de maio de 2022 às 18h32

Os dados de abate de suínos no primeiro trimestre do ano indicam crescimento da oferta em 2022 e reforçam as causas dos baixos preços pagos aos produtores, apontou, em nota, a Associação Brasileira de Criadores de Suínos (ABCS).

“Os números são muito significativos e, se descontarmos as exportações, fica mais evidente o excesso de oferta no mercado doméstico”, avaliou a entidade.

granja de suínos pós-parto, peste suína, linha de crédito

Wenderson Araujo/Trilux/CNA

O consultor de mercado da ABCS, Iuri Pinheiro Machado, explicou que em março foram abatidas 4,9 milhões de cabeças.

“Extrapolando esse número para o ano daria 59,3 milhões, sendo que no ano passado foram pouco menos de 53 milhões de abates”. Para ele, ao que tudo indica, o ponto de equilíbrio do mercado doméstico é com disponibilidade interna de pouco mais de 300 mil toneladas por mês. Em março foram ofertadas 371 mil toneladas.

A ABCS observa que, se for mantida a média de abates do 1º trimestre de 2022 para o restante do ano, pode haver um aumento da produção da ordem de quase 2%, podendo chegar à marca de 5 milhões de toneladas.

“É pouco provável que este crescimento continue no mesmo ritmo, pois há indícios de que, desde o final do ano passado, houve redução de matrizes que impactará a produção do segundo semestre deste ano com queda nos volumes produzidos”, comentou.

No mês de abril, a entidade lembra que houve uma “bolha” de demanda por carne suína na segunda quinzena que se manteve até a véspera do dia das mães, mas que logo em seguida se desfez para novo viés de queda de preço nos últimos dias.

“É possível afirmar que o primeiro semestre de 2022 do ponto de vista de rentabilidade, está perdido, restando ao setor a expectativa de um segundo semestre com menos oferta de suínos e insumos em maior disponibilidade a preços mais acessíveis”, ressaltou o presidente da ABCS, Marcelo Lopes.

Para ele, a persistência da crise endivida cada vez mais os suinocultores que precisarão de muitos meses de mercado favorável para ao menos recuperar o prejuízo acumulado desde o início de 2021.

As exportações de carne suína in natura acumuladas até abril de 2022 estão abaixo do mesmo período do ano passado em quase 17 mil toneladas, sendo que a China, o maior mercado para o Brasil, reduziu em quase 67 mil toneladas a compra nestes quatro meses, quando comparado com o primeiro quadrimestre de 2021.

Segundo a ABCS, de novembro de 2021 a março de 2022 os custos de produção da suinocultura vinham em uma escalada de crescimento ininterrupta, com milho passando de R$ 100 a saca de 60 kg e o farelo de soja a mais de R$ 3 mil/tonelada em algumas regiões, determinando um custo por quilograma de suíno vivo próximo a R$ 8 em março na região Sul.

O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) publicou no último dia 11 os dados preliminares de abate do primeiro trimestre de 2022.

Mesmo com a crise da suinocultura, que se iniciou no ano passado, o abate de suínos de janeiro a março de 2022 foi maior que o mesmo período do ano passado (+6.73% em toneladas e +7,20% em cabeças), e maior que o último trimestre de 2021 (+2,12% em toneladas e +4,58% em cabeças). Em relação ao primeiro trimestre do ano passado, quando comparada com as demais carnes, a proteína suína foi a que mais cresceu.