Prejuízo e menos boi no confinamento: como embargo chinês afeta pecuaristas?
O abate de bovinos no Brasil chegou ao menor patamar de quase duas décadas. O cenário é resultado do embargo da china à carne brasileira, adotado no início de setembro. Segundo o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), em outubro, o número de abates ficou abaixo de 2 milhões de cabeças de gado, 30% a menos do que em agosto, por exemplo.
Em quase três meses de embargo à carne bovina, a dinâmica de trabalho na fazenda de Nelso Marcon foi alterada. O pecuarista de Poxoréu, em Mato Grosso.
Foto: Pedro Silvestre
“Em 15 dias, eu perdi R$ 130 mil. Meu lucro se foi. Mesmo com a minha insistência de que eram animais jovens, com 28 arrobas e 23,8 meses”
O confinamento do Victor Campanelli, no interior de São Paulo, foi bastante afetado com a restrição chinesa. A situação do local foi totalmente modificada após as restrições anunciadas pelo país asiático.
“O confinador viveu talvez por um dos piores momentos da história da pecuária. Passamos por uma volatilidade de preço que é anormal no boi gordo”, diz Campanelli.
Embargo chinês à carne bovina reduziu volume de animais confinados do pecuarista Victor Campanelli.
Desde que foi afetada pela peste suína africana, a china se tornou um dos principais clientes da carne bovina brasileira. Até setembro, o país asiático correspondia a quase 50% das vendas do Brasil no segmento.
A China é um mercado com características diferenciadas, que exigiram do Brasil uma adequação enorme em toda cadeia que passou a focar em animais mais jovens de até 30 meses, dando origem ao chamado boi padrão ‘China’. Um gado que não pode ser produzido no modelo tradicional, a campo. Por isso, o embargo inesperado trouxe reflexos nunca antes vistos.
“Eu nunca havia visto esse ‘desconfinamento’, que é quando você pega o animal pronto para o abate e solta no pasto. Outra coisa que me chamou a atenção foi o ‘reconfinamento’, ou seja, pegar o animal que foi solto no pasto para colocá-lo de volta ao confinamento”, ressalta o presidente da Associação Nacional da Pecuária Intensiva (Assocon), Maurício Velloso.
O problema começou quando dois casos atípicos do mal da vaca louca foram notificados no rebanho brasileiro. Para cumprir o protocolo sanitário entre os dois países, o Brasil suspendeu a exportação para a China por 13 dias. Mas os chineses decidiram manter o embargo, mesmo após a Organização Mundial de Saúde Animal (OIE) confirmar que os registros não representavam risco à saúde humana.
“Esse embargo à carne brasileira nada mais é que um instrumento de obrigar o Brasil a baixas os preços da carne exportada” avalia o presidente da Assocon.
Desde o início do embargo, o Brasil deixou de arrecadar o equivalente a R$ 11 bilhões, segundo a Safras & Mercado. Se a situação não for revertida, e o valor pode ultrapassar R$ 17 bilhões ao final de 2021.
Na última semana, a China autorizou o envio de carne bovina que estava certificada até 4 de setembro, antes do embargo. A liberação parcial ajudou a dar vazão a contêineres que estavam parados, como em Lins, no interior de São Paulo, onde a JBS opera com dois terminais.
De acordo com a indústria, o mercado já se adaptou à ausência da China com a redução de abate nos frigoríficos.
“Em setembro e outubro, a entrada de matéria-prima no confinamento ficou estabilizada, porque o mercado interno precisava de acomodação nos preços. Nesse sentido, os boiteis e os confinamentos viram um enxugamento na entrada de animais. Mas, a partir de novembro, o mercado começa a se estabilizar com a retomada do boi magro no cocho para engorda”, explica José Roberto Bischofe, gerente-executivo de confinamento da JBS.
VEJA TAMBÉM
EUA vendem 524 mil toneladas da safra 2021/22 de soja na semana, diz USDA
Exportadores dos Estados Unidos venderam 524 mil toneladas de soja da safra 2021/22 na semana encerrada em 23 de dezembro, informou nesta quinta-feira, 30, o –
Leia MaisCom demandas interna e externa aquecidas, preço do frango bate recorde, aponta Cepea
Impulsionados pelas aquecidas demandas externa e, principalmente, interna, os preços da carne de frango atingiram recordes reais em 2021. Diante do menor poder de compra –
Leia MaisPreço do ovo atinge recorde real, mas poder de compra ainda é o pior da história
Durante a maior parte de 2021, o mercado de ovos registrou preços elevados, motivados pela demanda aquecida, pela oferta mais controlada e por repasses dos –
Leia MaisMilho: Brasil deve exportar 3,4 mi de toneladas em dezembro, prevê Anec
As exportações brasileiras de milho deverão ficar em 3,454 milhões de toneladas em dezembro, conforme levantamento semanal da Associação Nacional dos Exportadores de Cereais (Anec). –
Leia MaisConab deve adquirir mais 4,2 mil toneladas de milho hoje
Nesta terça-feira (28), a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) realizará mais uma operação de compra para abastecimento do Milho Balcão. Desta vez, a previsão é –
Leia MaisPlantio da safra de milho 21/22 chega a 73% na Argentina
Levantamento semanal divulgado dia 23 pelo Ministério da Agroindústria da Argentina indicou que o plantio de milho da safra 2021/22 atinge 73% da área estimada –
Leia MaisCarne bovina: exportação chega a 96,9 mil toneladas na parcial do mês
As exportações de carne bovina fresca, congelada ou refrigerada do Brasil renderam US$ 474,164 milhões em dezembro (18 dias úteis), com média diária de US$ –
Leia MaisCom oferta menor, milho bate recorde em 2021, diz Cepea
Os preços do milho atingiram patamares recordes no mercado brasileiro ao longo de 2021. Segundo pesquisadores do Cepea, o impulso veio dos baixos estoques da –
Leia MaisMilho: colheita avança no RS, mas estiagem provoca perdas
O plantio de milho atinge 92% da área no Rio Grande do Sul. Na semana passada, eram 91%. Em igual período do ano passado, eram –
Leia MaisProdução de doses de sêmen bovino até 3º tri supera todo o ano de 2020
A produção de sêmen bovino alcançou no Brasil, até o terceiro trimestre, 16,713 milhões de doses, conforme o Index Asbia, da Associação Brasileira de Inseminação –
Leia Mais