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Modernização da pecuária de cria no Acre é desafio urgente para garantir sustentabilidade

Estudo da Embrapa revela baixa adoção tecnológica nas propriedades, apesar do bom estado das pastagens e do potencial produtivo da região

Por Cleide Assis
25 de junho de 2025 às 07h57

Foto: Diculgação | Santa Nice

Uma pesquisa inédita conduzida pela Embrapa Acre revelou os principais desafios e oportunidades da pecuária de cria no estado. O diagnóstico, realizado em 246 propriedades de 12 municípios, apontou que 82% dos criadores de bezerros são pequenos produtores e 71% ainda operam com baixa adoção tecnológica. Os dados mostram a necessidade urgente de políticas públicas e assistência técnica para modernizar o setor e garantir sua sustentabilidade.

A atividade é responsável por cerca de 60% do valor bruto da produção agropecuária acreana e envolve mais de 10 mil produtores. Apesar disso, a maioria enfrenta limitações estruturais, superlotação de pastagens e dificuldades de acesso a crédito e tecnologia.

Pastagens em boas condições, mas com risco de superpastejo

O levantamento também mostrou um dado positivo: 75,4% das fazendas possuem pastagens em boa qualidade, resultado do uso de gramíneas adaptadas ao solo amazônico. No entanto, a taxa média de lotação dos pastos — 2,49 cabeças por hectare — é 27,7% superior à média estadual, o que evidencia superpastejo em muitas propriedades, sobretudo nas de pequeno porte.

“Esse cenário reforça a urgência de capacitar os produtores para o manejo adequado da taxa de lotação, o que impacta diretamente na produtividade e conservação das pastagens”, destaca o pesquisador Carlos Mauricio Andrade, coordenador do estudo.

Tecnologias acessíveis, mas pouco adotadas

Apesar de existirem soluções de baixo custo disponíveis para pequenos produtores, a difusão dessas tecnologias ainda é limitada. O consórcio de gramíneas com leguminosas, como o amendoim forrageiro, por exemplo, está presente em apenas 6% das propriedades visitadas.

Outras tecnologias promissoras, como o plantio direto de forrageiras a lanço — que dispensa o uso de tratores — também enfrentam baixa adesão, evidenciando a necessidade de estratégias mais eficazes de transferência de conhecimento.

Internet como aliada do produtor

Um dado promissor do estudo mostra que 71% das fazendas têm acesso à internet via smartphone. Isso abre caminho para ações educativas digitais e a criação de redes locais de troca de conhecimento. “A conectividade pode facilitar a interação entre produtores, técnicos e instituições de pesquisa”, afirma o professor Vitor Macedo, da Universidade Estadual do Vale do Acaraú (UVA).

Limitações de mercado e genética do rebanho

Outro desafio relevante apontado é a baixa escala de produção, que obriga muitos pecuaristas a vender seus bezerros para atravessadores a preços inferiores ao de mercado. Além disso, 80% dos criadores ainda utilizam touros de origem genética desconhecida, o que compromete a qualidade do rebanho e reduz o valor agregado do animal.

Programas como o Progenética, da ABCZ, são apontados como alternativas para incentivar o melhoramento genético com acesso facilitado a crédito e touros registrados.

Evento debaterá caminhos para o setor

Os resultados completos do estudo serão apresentados durante o 1º Simpósio Acreano de Pecuária de Cria, que ocorre nos dias 25 e 26 de junho em Rio Branco (AC). O evento reunirá pesquisadores, produtores, técnicos e representantes do setor público para discutir soluções práticas para o fortalecimento da pecuária de cria no estado.

Modernização gradual e adaptada à realidade local

Para os especialistas, a modernização da pecuária no Acre deve ocorrer de forma gradual, respeitando a realidade dos pequenos produtores. A prioridade deve ser a adoção de práticas simples e eficazes, como o calendário reprodutivo, o manejo de pastagem e a separação adequada do rebanho por categorias.

“Mais do que adotar tecnologias sofisticadas, precisamos garantir que o produtor tenha acesso à assistência técnica, crédito rural e conhecimento prático para aplicar soluções viáveis em sua propriedade”, conclui Andrade.