CRIMES NO CAMPO

Abigeato tem queda de 18,5% em MS, após criação de delegacia especializada

Deleagro tem abrangência em todo estado para acelerar investigações de crimes contra patrimônio do produtor rural, como furto de gado, insumos e produtos agrícolas; saiba como são ações da unidade

Por Pasquale Augusto, de São Paulo
26 de junho de 2022 às 09h01

Após a criação de uma delegacia especializada em crimes rurais, Mato Grosso assistiu à redução do número de casos de abigeato. Nos primeiros cinco meses de 2022, houve queda de 18,5% no furto de gado bovino, em comparação com o mesmo período do ano anterior.

A Delegacia de Combate a Crimes Rurais e Abigeato (Deleagro) foi inaugurada em setembro do ano passado. Sediada na capital, Campo Grande, tem abrangência em todo estado para acelerar as investigações de crimes contra o patrimônio do produtor rural, como furto de gado, insumos e produtos agrícolas.

O delegado titular da especializada, Mateus Zampieri, destaca o trabalho da inteligência e o uso de tecnologias na repressão de crimes.

“O setor de inteligência ativo e atuante é fundamental, assim como a troca de informações entre as forças policiais, seja Polícia Rodoviária Federal, Polícia Civil, Polícia Federal e Polícia Militar. As inteligências precisam conversar, e isso que buscamos desde o primeiro dia de criação da Deleagro. Paralelamente, o contato com colegas de outros estados, onde já existe esse combate a crimes rurais, como em Goiás, Rio Grande do Sul, Mato Grosso e Minas Gerais, nós já temos estreitado muito, até porque o crime não tem fronteira”, comenta.

Abigeato de oportunidade

“Aqui em Mato Grosso do Sul, eu diria que 90% dos crimes de abigeato são os pequenos, de uma ou duas cabeças de gado. São os crimes de oportunidade, onde um criminoso sai, principalmente à noite, em estradas, procurando um gado que esteja vulnerável, de fácil acesso, e ele faz o abate ali mesmo e leva parte ou todo animal. Essa carne é comercializada em pequenos comércios, por vezes até em residências mesmo“, ressalta o delegado. 

De acordo com o titular da especializada, a Deleagro tem trabalhado de forma intensa no mapeamento de dados anteriores à criação da unidade. “Um boletim de ocorrência pode ter uma ou dez cabeças de gado, mas para fins estatísticos, é um boletim de ocorrência. Quando tiver dez boletins de ocorrências, não quer dizer que foram levadas dez cabeças de gado, por outro lado, eu posso ter 50 boletins e 50 cabeças de gado furtadas, portanto, estes números anteriores à Deleagro, demandam tempo para mapearmos e entendermos o que foi efetivamente levado, o sistema não fazia essa diferenciação sobre quantas cabeças constavam em um boletim de ocorrência”.

Segundo ele, a delegacia tem trabalhado na implementação de um sistema que permite saber, por exemplo, quantas cabeças de gado foram levados nos últimos 30 dias, e não quantos boletins foram registrados no período. Outra questão importante na contabilização dos dados é entender o aumento no registro de boletins de ocorrências nas épocas de vacinação dos rebanhos.

“O produtor não conta o seu rebanho toda semana, estamos falando de um estado com mais de 20 milhões de cabeças de gado, então a contagem, em via de regra, é feita nas épocas de vacinação, em maio e novembro, e são nestes momentos que ele vai dar falta dos animais, já que a última contagem foi feita há 6 meses, aí ele vem e realiza o boletim de ocorrência na delegacia”, afirma o delegado.

Zampieri conta um caso curioso que aconteceu no estado. “Tive um colega que registrou um boletim de ocorrência com 1.000 cabeças de gado e eu tomei um susto. Quando eu fui ver o histórico, era um levantamento dos últimos dez anos da fazenda de um produtor, só que para fins estatísticos, houve uma ‘explosão’ na subtração destes animais. Esse é um filtro que procuramos fazer, um trabalho minucioso para trabalharmos com números reais e combater o que ocorre hoje”.

Febre aftosa

O delegado ressalta que o estado também se preocupa com a sanidade do rebanho bovino, já que, a partir do ano que vem, Mato Grosso do Sul passa a ser reconhecido como área livre de febre aftosa sem vacinação.

“A partir disso [reconhecimento do estado como zona livre], os cuidados passam a ser redobrados para que esse gado não entre de forma ilegal pelos países que fazem fronteira conosco. Então existe todo um trabalho preventivo de inteligência no estado, para mapear possíveis locais e evitar que esse contrabando de animais ocorra”, diz.

A Deleagro e a Agência Estadual de Defesa Sanitária Animal e Vegetal (Iagro) trabalham em conjunto, seja no suporte operacional fornecido pela polícia, assim como na troca de informações, principalmente no controle sanitário do rebanho.

Antes da criação da especializada, não havia um setor da polícia que centralizasse informações e realizasse o mapeamento dos dados. “Aqui na Deleagro, nós temos um núcleo de inteligência, que conversa com a Segurança Pública e com outros estados, principalmente os que fazem fronteira: Goiás, São Paulo, Paraná e Mato Grosso. Mato Grosso do Sul tem esse diferencial de termos países que fazem fronteira, como Bolívia e Paraguai, e por conta disso, o tipo de crime visto no estado de São Paulo, por exemplo, pode ser muito diferente, em função da nossa fronteira seca (sem rios ou lagos) e extensa, além do nosso bioma que é diferenciado, então é todo um trabalho de especificidade feito pela nossa especializada”, conclui Zampieri.

Furto de GPS

Apesar do avanço na repressão ao abigeato, a Deleagro tem enfrentado um novo tipo de crime. Com a crise mundial de semicondutores, matéria-prima fundamentais para diversos setores da indústria, os criminosos passaram a subtrair equipamentos de máquinas agrícolas, principalmente GPS, essenciais na agricultura de precisão.

“São mais de 20 ocorrências de furtos de GPS de máquinas agrícolas em 2022, com pelo menos R$ 5 milhões em prejuízos diretos”, afirma Zampieri.