ESTIAGEM PROLONGADA

Agonia: pecuaristas do Pantanal correm contra o tempo para salvar rebanho da seca

Sem chuva, a saída encontrada é a abertura de poços artesianos para tentar manter os animais vivos; mas em alguns casos, o socorro chegou tarde demais

Por Pedro Silvestre, de Cuiabá (MT)
02 de dezembro de 2020 às 19h41

Mais de 20 cabeças de gado morreram por causa da estiagem na do pecuarista Breno Dorileo, no Pantanal mato-grossense. Preocupado com a situação, ele mandou limpar seis represas antigas, construiu oito novas e ainda desembolsou cerca de R$ 5 mil em água para o abastecimento

Agora, o pecuarista  trabalha na construção de dois poços artesianos na propriedade de nove mil hectares. A força-tarefa é para evitar novas mortes do rebanho de duas mil cabeças. “Água, para achar, só no subterrâneo, só com poço artesiano. O dia a dia aqui na fazenda ficou só para isso, só para não deixar o gado morrer, serviço que era essencial como arrumar cerca e curar bezerros foi deixado de lado, pois partimos  para socorrer o gado com água”, disse.

reservatório de água

Foto: Pedro Silvestre/Canal Rural

A seca também compromete reservatórios naturais como corixos, represas e açudes da propriedade de 9,4 mil hectares de Ricardo Arruda. Para garantir o fornecimento de água para os animais, ele também recorreu à água subterrânea com a construção de um novo poço de 40 metros de profundidade e a reativação de outro, da década de 1970, que nunca foi usado. 

Boi morto em solo castigado pela seca

Foto: Pedro Silvestre/Canal Rural

    

“Esses poços eram da época do meu avô à frente da propriedade, do meu pai, e é a primeira vez que estamos reativando esse poço. Temos que tomar a atitude não só para garantir o fornecimento de água para o gado, para que o gado não venha morrer literalmente de sede, mas também que não venha perder para atoleiro e para evasão” , disse Arruda.

Homem agachado sobre terra seca

Foto: Pedro Silvestre/Canal Rural

A situação preocupa entidades do setor pecuário de Mato Grosso. “Não houve volume de chuva suficiente até o momento para as pastagens se recuperarem. Os animais continuam tendo bastante dificuldade em se alimentar e também suprir as suas necessidades de água, ainda está havendo muitas mortalidades”, disse a diretora-executiva da Associação dos Criadores de Mato Grosso (Acrimat), Daniela Bueno.

A cada dia a estiagem se intensifica e o Pantanal mato-grossense agoniza com os reflexos da seca histórica. O cenário é desolador, com jacarés, animais silvestres, diversas espécies de pássaros e o gado disputando espaço nas pequenas poças que ainda restam dentro do bioma.

Bois bebendo água em reservatório barrento

Foto: Pedro Silvestre/Canal Rural

“Eu nunca vi o rio tão seco. As represas secaram praticamente todas e todo tipo de bicho está sofrendo. Não tem nenhum que não esteja sentindo falta de água”, disse Breno Dorileo.

Na disputa pela água, os animais mais debilitados não resistem e acabam ficando pelo caminho. “Para a gente que cuida, ver os animais assim, morrendo nas margens, nessa seca tão doída, é muita tristeza. Em local que antes era um aguaceiro de ponta a ponta e tinha água para o gado beber, hoje não tem nada. Já perdemos mais de 30 reses para a seca e é muito difícil para nós. Estamos em ano muito cruel, porque a gente está acostumado em ver o Pantanal tão bonito”, desabafou o gerente da fazenda, Carlos Henrique dos Santos Tortoreli.