EM 2020

Preço das carnes sobe na pandemia mas custo aperta margem do pecuarista

De acordo com especialistas, os insumos registraram altas mais acentuadas do que os animais; confira tendência para este ano

Por Antônio Pétrin, de São Paulo
25 de fevereiro de 2021 às 16h18

A arroba do boi gordo registrou forte valorização em 2020, superando R$ 300 algumas vezes. No começo deste mês, em São Paulo, animais padrão exportação chegaram a bater recorde, a R$ 304 por arroba.

Segundo a diretora executiva da Agrifatto, Lygia Pimentel, o principal motivo de o preço ter subido é a falta de oferta de animais. “Os abates caíram. Se os abates tivessem caído por falta de demanda, os preços teriam caído junto, mas a demanda caiu e os preços subiram junto, ou seja, por falta de oferta”, diz.

O volume de exportação de carne bovina no ano passado foi quase 10% maior em comparação com 2019, totalizando 1,75 milhão de toneladas, segundo a Secretaria de Comércio Exterior (Secex).

Já a carne suína bateu recorde de embarques, com 901,1 milhões de toneladas, alta de 37,2% em relação ao ano anterior.

Segundo a diretora da Agrifatto, todos os mercados sofreram com a pandemia, mas a China registrou um crescimento maior de demanda por conta de problemas de abastecimento gerados pelo surto de peste suína africana em anos anteriores. “As exportações se fortaleceram e muito, e isso chega a mesa do brasileiro como consequência”, pontua.

E chegou mesmo. Apesar do auxílio emergencial, o consumidor sentiu no bolso o aumento do preço da carne bovina, que subiu 29,1% em um ano. A proteína suína ficou 19,3% mais cara.

Com o preço da carne bovina nesse patamar, restou ao consumidor a mesma estratégia de sempre: optar por outros tipos de proteínas. Uma das alternativas foi o frango, em média 60% mais barato.

Custos sobem mais do que as carnes

Ao contrário das carnes bovina e suína, a exportação de aves caiu 1,2% em 2020, em comparação com 2019. Pelo menos, no mercado interno, o quilo do frango teve uma valorização de 12,5% em um ano. Mas esse reajuste perdeu feio para o aumento do custo de produção.

“Hoje, subiram mais de 60% o milho e o farelo de soja. Os insumos básicos para a produção subiram fora de qualquer realidade”, afirma o presidente da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), Ricardo Santin.

Também no caso da carne bovina, mesmo com a arroba batendo recorde, a margem de lucro do pecuarista ficou apertada por conta do aumento dos insumos e dos animais de reposição. “Se você considerar um custo de produção com a reposição no meio, a gente teve uma alta de 57%. O boi no período subiu 47%”, afirma Lygia.

Tendência

Os especialistas acreditam que os preços vão continuar firmes em 2021, mas será um mais um ano desafiador para os produtores de proteína animal. “Estamos conversando com a ministra Tereza Cristina e sua equipe, buscando alternativas, a isenção de PIS/COFINS nas importações, isenção das importações de outros países e acima de tudo que o produtor possa fazer compras antecipadas”, afirma Santin.

Lygia diz que em termo de exportações, a China vai continuar puxando o consumo. “Vai ser um ano desafiador, mas a gente acredita em preços firmes por o mercado estar tão enxuto”, diz.