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Curso PampaPlus apresenta inovações no melhoramento genético das raças Hereford e Braford

Evento organizado pela ABHB e Embrapa Pecuária Sul em Bagé (RS) também reconheceu criadores com premiação inédita e pessoas que contribuíram com o programa que completa 15 anos

Por AgroEffective
04 de dezembro de 2023 às 09h00
Comemorando 15 anos de atividades, o programa PampaPlus foi tema de curso realizado nesta quinta-feira, 30 de novembro, na sede da Embrapa Pecuária Sul, em Bagé (RS). O evento, promovido pela Associação Brasileira de Hereford e Braford (ABHB) em parceria com a Embrapa Pecuária Sul, trouxe palestrantes que mostraram a evolução do melhoramento genético e a contribuição do programa em plantéis das raças Hereford e Braford.

O chefe-geral da Embrapa Pecuária Sul, Fernando Cardoso, destacou, em sua fala inicial, os nomes que fizeram parte desta evolução dos 15 anos do programa PampaPlus. “O que realmente faz um programa forte e de sucesso são bons criadores e bons técnicos de campo. Nisso o PampaPlus está bem servido e é nisso que vemos o grande sucesso do programa. E nossa grande missão é levar tecnologia ao campo para melhorar a rentabilidade dos produtores, a sustentabilidade da produção e a genética tem um papel fundamental de usar melhor os recursos que trabalhamos e com isso conseguimos produzir alimentos de maior qualidade e seguros”, observou.

Este destaque das pessoas foi referendado pelo presidente da ABHB, Eduardo Soares, que citou que são três pilares fundamentais para o sucesso do programa. “Precisamos de uma entidade que respalde este programa e a Embrapa nos dá este respaldo e sem este aval não se tem credibilidade. Além disso, temos as pessoas que estão envolvidas na condição disto, onde entram os técnicos, os coordenadores do programa. E na outra ponta temos os criadores, com seus pesos e importâncias”, salientou, acrescentando ainda que o melhoramento genético tem que evoluir, pois os negócios rurais mudaram e nem sempre é possível fazer o que se fazia antes. “Preparar animais é mais caro. Quando se quer destacar animais, se destacam poucos e o programa tem que evoluir para acompanhar essa evolução dos tempos”, complementou.

Para falar sobre melhoramento genético, Márcio Ribeiro Silva, do Grupo Ema, de Corumbá no Mato Grosso do Sul, trouxe sua experiência com o gado nelore criado no Pantanal. “Quando a gente trabalha com bovinos, temos que pensar que o tempo é o senhor da razão”, ensinou o especialista, no início de sua palestra. Ele explicou que a intensidade de seleção em algumas espécies é mais rápida do que em bovinos. Silva também destacou que essa intensidade será maior em machos do que em fêmeas e que isso é muito importante quando se fala em ganho genético. Sobre o trabalho que desenvolveu junto ao rebanho Ema, Márcio Silva disse que o produtor não deve ser imediatista ao buscar  melhoramento genético. Ele afirma que o ganho genético é cumulativo e perene. “O que é muito bom para rebanho comercial”, concluiu.

Na sequência, o pesquisador da Embrapa Pantanal, atuando na Embrapa Gado de Corte, em Campo Grande, Mato Grosso do Sul, Ériklis Nogueira, também presidente do comitê gestor do portfólio Carnes Embrapa, falou sobre o “Avanço genético com a utilização das biotecnologias reprodutivas”. Explicou como podem ser usadas as ferramentas reprodutivas para ajudar o melhoramento genético e trouxe informações sobre o portfólio que tem o trabalho de fomentar e desmistificar a produção de carne. Informou que no sistema de produção de gado de corte no Brasil, 87% do rebanho, ou seja, 38 milhões de cabeças, é abatido a pasto, e 13% em confinamento, sendo 6 milhões de cabeças. “No entanto, a vida de um bovino de corte no país é 95% a pasto. Então temos que valorizar na hora de vender a nossa carne para não sermos criticados de que o nosso boi polui”, destacou, lembrando que o metano produzido pode ser sequestrado pelas pastagens.

Os participantes do curso também puderam ouvir o relato do sócio proprietário da Estância Tamanca, de Santa Vitória do Palmar (RS), Ricardo Terra. Ele apresentou a forma de trabalho. Ressaltou que o foco é a produção de carne com um plantel de Hereford e de produção de touro com genética funcional. “Procuramos comprar terneiros dos nossos clientes dos últimos cinco anos”, esclareceu o produtor. Terra explicou que a Tamanca possui um programa de troca de terneiros por touros. Sobre o trabalho de avaliação dos animais, Ricardo Terra contou que ele acontece em quatro momentos: nascimento, desmama, sobreano e carcaça. Já sobre o programa PampaPlus, o criador conta que começa a rodar no outono. Durante sua fala, apresentou, também, as avaliações de seus melhores touros, como o Rincão. “Um touro muito bonito, pai de vencedor nacional”, explicou, detalhando que é um touro comprado com uma genética diferente.

Pampa

ABHB/Divulgação

A primeira palestra da tarde do Curso de Melhoramento Genético PampaPlus foi ministrada pelo professor doutor Fernando Baldi, do Departamento de Zootecnia da Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinária da Universidade Estadual Paulista e também responsável técnico no programa de Pesquisa Inovação da ANCP, Associação Nacional de Criadores e Pesquisadores. Ele falou sobre o “Impacto da genômica na pecuária tropical: experiências, lições e perspectivas, apresentando os resultados obtidos nos últimos 10 anos com o uso da avaliação genômica e cases de sucesso que mostram como o uso dessa tecnologia acelera o processo genético e também abre oportunidade para melhorar rebanhos comerciais.

Ao final, pesquisadores da Embrapa Pecuária Sul falaram sobre as ferramentas do PampaPlus. Temas como as predições genômicas, novo design do PampaPlus, Índice Real de Carcaça e a nova ferramenta de acasalamento foram abordados. Fernando Cardoso explicou sobre as predições genômicas mostrando exemplos de como as informações são coletadas e chegam aos criadores. Lembrou que já existe tecnologia para o uso amplo do DNA no melhoramento do Hereford e Braford no Brasil. “Temos aqui no Brasil condições ideais para produzir taurinos para regiões tropicais e subtropicais. Podemos fazer um grande diferencial para a nossa genética em nível mundial”, enfatizou.

Já o pesquisador Marcos Yokoo resumiu o Índice Real de Carcaça (IRC) Hereford e Braford, lançado na última Expointer. O especialista contou a história da criação da ferramenta, que tinha como meta derivar valores econômicos de seis características de importância econômica dos rebanhos Hereford e Braford. Yokoo apresentou os quatro  objetivos de seleção: espessura de gordura, área de olho de lombo, peso final e gordura intramuscular, junto com seus valores econômicos e o percentual de importância relativa. Dando um exemplo de um exemplar com 40% de acurácia, o ganho do produtor por vaca pode chegar a R$ 48,05. “É o indicativo de uma determinada característica em termos monetários do lucro do sistema quando a gente melhora a rentabilidade desta característica independente das outras”, exemplificou.

William Coelho, da Sulbits, mostrou as novidades no novo design da ferramenta, navegando nos protótipos de como será a navegabilidade para o produtor. “A ideia sempre foi trazer uma interface fácil para o produtor transmitir as informações de maneira precisa. Por isso o PampaPlus Net será modificado no próximo semestre para trazer este dinamismo.

Na oportunidade, durante o evento, também foi realizada a entrega da primeira edição do prêmio Destaque Criador PampaPlus 2023 Hereford e Braford, que destacam os selecionadores que utilizam de forma efetiva as avaliações genéticas do PampaPlus. Na raça Hereford, foi agraciada a propriedade Das Marias Agropecuária, de Aceguá (RS), enquanto no Braford a distinção ficou com a Agropecuária Sereno, de Santa Maria (RS). “O objetivo de criar a premiação é premiar aqueles criadores que utilizam realmente a ferramenta como ela é recomendada”, frisou Fernando Cardoso, que foi também homenageado recebendo uma placa das mãos do presidente da ABHB, Eduardo Soares. Também foi apresentada a segunda edição do manual PampaPlus, documento que reúne informações para participar do programa, já disponível no site da associação.

Texto: Ieda Risco, Rejane Costa e Nestor Tipa Júnior