FOGO

Produtores rurais montam brigada particular na prevenção contra incêndios florestais

Região de Sapezal/MT, sofre com queimadas

Por Redação Canal do Criador
17 de agosto de 2021 às 17h00

Um grupo de produtores rurais de Sapezal, em Mato Grosso, montou uma brigada particular para combater queimadas na região. A articulação chega em boa hora. Com o início da temporada de fogo, e apesar da moratória instituída pelo governo federal, Mato Grosso já registrou um incêndio de grande proporção em agosto. Aproximadamente 2,3 mil hectares de vegetação nativa e pastos naturais foram atingidos.

Dados do ICV (Instituto Centro de Vida) apontam que Mato Grosso chegou a 740 mil hectares de áreas atingidas por incêndios florestais só em 2021 – extensão equivalente a cerca de cinco vezes o município de São Paulo.

Com o intuito de evitar que estragos desse tipo ocorram em suas áreas, cada um dos produtores participantes da brigada auxilia com a estrutura que possui, como, por exemplo, tratores de esteira, utilizados na época da seca para remover a palha e fazer aceiros na beira das estradas, evitando que o fogo se propague.

O grupo integra o projeto CONSERV, um mecanismo privado e de adesão voluntária que remunera financeiramente produtores rurais da Amazônia Legal comprometidos a conservar o excedente de vegetação nativa em suas propriedades que, por lei, poderia ser suprimida.

Manter ações de combate a incêndio é um dos pré-requisitos para fazer parte do programa, lançado em outubro de 2020 pelo IPAM (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia), em parceria com o Woodwell Climate Research Center e com o EDF (Environmental Defense Fund) .

Integrante da brigada e um dos primeiros a ser contratado pelo CONSERV, o produtor rural de Mato Grosso Carlos Roberto Simoneti decidiu investir o valor pago pelo projeto em um caminhão pipa, que fica à disposição caso ocorra qualquer sinal de fogo na região. “Já que estou sendo remunerado para conservar, decidi dar o exemplo e fiz essa aquisição para ajudar todo o pessoal”, afirma.

Já o produtor Redi Biesuz, também participante do programa, colabora oferecendo não só seu maquinário, mas a estrutura hidráulica de sua propriedade. “Caso seja necessário, temos um grande reservatório e uma rede de água espalhada pela fazenda, com tubulações que podem ser adaptadas para abastecimento rapidamente”, explica.

Dentro da estrutura desenhada pelos produtores, a brigada conta também com máquinas de pulverização adaptadas que podem ajudar a combater o fogo, e até mesmo aviões agrícolas, capazes de alcançar locais de difícil acesso e dispersar água. “Além disso, estamos sempre atentos e em comunicação com os brigadistas e com os bombeiros para qualquer vestígio ou sinal de fogo”, diz Simoneti.

Ele ainda relata que os outros produtores da região não utilizam manejo do fogo, nem mesmo para preparar as pastagens e as lavouras antes do plantio. “Não há necessidade. Ao queimar, você perde a matéria orgânica e os micronutrientes, o que acaba estragando o solo. Fogo nunca mais, já era!”

Ao invés de queimar, os produtores aproveitam a matéria orgânica do resto da última safra e plantam na mesma área, no chamado Sistema de Plantio Direto (SPD). “A palhada devolve os nutrientes que foram retirados da terra durante o desenvolvimento da plantação, construindo uma estrutura que é muito saudável para o solo e para o desenvolvimento da cultura”, reforça Biesuz.

Ao manter o solo coberto, o plantio direto também mantém a umidade da terra por mais tempo. A pesquisadora do IPAM Ludmila Rattis destaca que qualquer prática agrícola que beneficie a quantidade de matéria orgânica na terra, ou que evite a perda de água, favorece o que está sendo cultivado naquele momento e posteriormente. “Esse é um princípio de agricultura sustentável. Não há sustentabilidade se você tira mais do solo do que você devolve e se aquele cultivo produz seca ao invés de produzir água”, alerta.

Fonte: Assessoria